Em dia chuvoso, evento reuniu principais figuras, entidades e diversos setores culturais, da capital e do interior paulista
por @gabrielruiz
Na terça-feira (13/7) o candidato a governo de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores, Aloízio Mercadante, participou de um debate com vários representantes da Cultura. Entidades e movimentos como Cooperiferia, Software Livre, Abraço, Movimento Música pra Baixar (MPB), Fora do Eixo, Casa de Cultura Digital, candidatos atuantes na área, entre outros, venceram a chuva e levaram suas ideias para a pauta de cultura do @mercadante.
A reunião aconteceu no Espaço Cultural Rio Verde, na Vl. Madalena e foi organizada por Sérgio Amadeu, com mediação do músico Fernando Aniteli, da banda O Teatro Mágico. “O Sérgio me aplicou um golpe, falou que era um encontro com meia dúzia de pessoas, mas que bom que tem muita gente” - brincou Mercadante.
A fala inaugural – sugerida por Sérgio Amadeu – foi a de Felipe Altenfelder, representante da rede @ForadoEixo e Ponto de Cultura @Massacoletiva que, entre outros, expôs a proposta do #Pcult. O “Partido da Cultura” é, resumidamente, movimento suprapartidário nacional que visa a ampliação do debate sobre as demandas culturais, criando um elo produtivo entre a Cultura, a classe política e a sociedade em geral.
Em seguida, o representante da Abraço levantou a bola da criminalização real de alguns movimentos culturais e o tema da democratização da comunicação, citando o caso de Heródoto Barbeiro e de Gabriel Priolli, ambos da TV Cultura.
Aí falaram Edi Rock, dos Racionais MC´s e Gustavo Anitelli, do MPB e O Teatro Mágico, Célio Turino, candidato a deputado federal e mentor de diversas políticas culturais, entre elas a dos Pontos de Cultura e a sambista Leci Brandão. “Por que só ocupamos o sambódromo durante o carnaval? Por que não colocamos teatro lá durante o ano? Shows, mostras, por que isso não acontece?” E continuou. “Não entendo porque as pessoas não falam mais dos problemas, do caos cotidiano, das pilantragens, como nas décadas de 60 e 70; hoje as únicas pessoas que fazem isso são as ligadas ao hip hop e ao rap” - disse Leci neste segundo trecho referindo-se às letras do período de exílio no Brasil.
Vieram ainda outras colocações interessantes, como a do Sérgio Vaz, da Cooperiferia, extremamente realista. “Estamos fazendo um monte de coisas sem o estado, o estado precisa reconhecer essas pessoas” ou “A periferia é urânio enriquecido, a gente é muito rico, mas também podemos explodir”. E ainda a de Claudio Prado, da Casa de Cultura Digital, sempre genial.
“Marx hoje não seria marxista, seria “Hippie” digital” - fazendo alusão também a políticas que “colocam os meios de produção nas mãos da sociedade”. Era então a vez de Aloísio falar. Ele começou tocando no comentário de Leci Brandão e fez questão de dialogar com cada assunto mencionado:
“O que se tem de mais forte e autêntico é o hip hop. Antes não tinha muito tempo por causa dos trabalhos no Senado, que não costumo faltar, mas agora quero ir lá prestigiar, conhecer de perto”.
“Temos hoje uma política cultural elitista, atrasada, então podemos discutir como romper com isso ao longo do governo e pensar novos meios que facilitem o acesso também às periferias no trabalho com a cultura”
“Não é de nosso [PT] histórico controlar a mídia”
“Dialogar com plataformas livres, pensar na incorporação do software livre, que reduziria bastante o orçamento dos estados, pois gastamos fortunas comprando equipamentos da Microsoft”
Do início ao fim, todos os momentos foram capitados e transmitidos por mim em tempo real através da ferramenta Twitcam, uma espécie de desdobramento do Twitter para transmissões compactas com webcams. Assessores do candidato, inclusive, espalharam a transmissão pela rede, o que gerou um pico de 57 pessoas antenadas no encontro. Foi a primeira ação concreta e histórica da vertente paulista do Partido da Cultura, o @Pcult_SP., que também tuitou durante todo o evento informando as pessoas sobre o que estava rolando.
Encaminhamentos
Parecia que após os posicionamentos de @Mercadante, as pessoas se cumprimentariam e deixariam o Rio Verde à caminho de casa. Engano. “Tem muita gente aqui que quer falar, pelo menos um pouquinho, então sugiro todo mundo falar pouco, usar 140 caracteres pra discorrer” - sugeriu Sérgio Amadeu, fazendo alusão ao Twitter, que o Mercadante acabara de citar. E assim, mais um turbilhão de falas seguiram-se.
“Precisa inserir a cultura na pauta de desenvolvimento do estado e não só fomento para editais, que também são importantes, mas insuficientes.”
“Hoje existe muita produção no interior do estado. É importante organizarmos e proporcionarmos rotas de circulação de artistas, tanto daqui para o interior, como do interior para a capital”
“Gostaria que o senhor falasse de possibilidades de levarmos nosso trabalho para o exterior. Pois já recebemos convites, mas são poucas chances de viabilizar esses projetos; já conseguimos verba com edital de circulação, mas ele só funciona internamente”
“Queria frisar que com a implementação de sistemas livres de computação, além da economia, levaremos possibilidades de conhecimento e tecnologia para educadores e alunos”
Com tantas propostas, @Mercadante sugeriu a criação de um Grupo de Trabalho (GT), que foi montado ali mesmo e composto por cinco integrantes (Célio Turino, Claudio Prado, Sérgio Amadeu, Felipe Altenfelder e Fernando Anitelli), responsáveis por sistematizar e organizar as proposições elencadas nas três horas que o encontro durou. “São muitas ideias, sugestões e propostas interessantes, precisamos de pessoas agora para sistematizá-las; Célio e Sérgio, podemos fechar isso agora e continuar?”. Aloízio pediu também para que o “próximo evento como este seja um seminário, num espaço maior, com muito mais gente, pra debatermos de verdade, pra valer! Vamos colocar o debate da cultura no mesmo nível de um tema como segurança pública ou educação” - enfatizou o petista.
E finalizou com outra boa observação de @Mercadante: “Atentem para isso, vejam que curioso. Tive três reuniões hoje, uma em cada período do dia. De manhã, bem cedinho, estive com o sindicato das automotivas e não tinha nenhuma mídia presente. Na hora do almoço me reuni com 35 grandes empresas paulistas e a 'grande' mídia estava lá; agora de noite só vi o Terra por aqui, por que é que eles não estão aqui?” - disse em tom de crítica.
Depois de encarar o salubre trânsito paulistano, pegar uma carona, um trem, um ônibus e andar vários quarteirões debaixo de chuva, com um guarda-chuva capenga e encharcar o tênis, a meia e a calça, eu tinha, ao fim daquilo tudo, sem sombra de dúvidas, lavado a alma.
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